Um grande mal que atinge o ser humano moderno (ou, pelo menos, esse ser humano que está escrevendo) é o esquecimento. Sou do tipo que guarda a garrafa térmica na geladeira e o leite dentro do armário. Quando saio de casa, no meio do caminho volto porque não lembro se tranquei ou não o portão.
Mas, o pior momento detodos é o banho: naquela típica noite de inverno eu entro na água e não tenho mais vontade de sair. Porém alguém bate na porta e fala: “Vai logo...eu quero tomar banho!”. Resignadamente, eu começo os preparativos para sair do chuveiro quando uma dúvida vem à minha cabeça: “Será que eu passei xampu?” Tento, em vão, sentir o cheiro de uma possível aplicação deste produto, pois meu cabelo é muito curto para isso. Então, só resta uma alternativa: passar o xampu. O mais incrível é que depois de colocar o líquido na mão, antes de passar na cabeça, eu lembro: já passei o xampu.
Até aí, são coisas que incomodam, mas que não me impedem de viver. O problema é aquela situação constrangedora, quando você está andando com um amigo na rua, ele encontra outra pessoa, toca no ombro dela e se dirige a você: “Olha só... você lembra quem é este aqui?” Você então percebe que foi enganado todos esses anos, pois um amigo de verdade jamais faria esse tipo de pergunta. Você pode tentar fingir que lembra e esperar pela misericórdia do seu suposto amigo te salvar, partir para o ataque sobre esse falso amigo e pedir agora aqueles cinqüenta reais que ele te deve, pois vocês nunca mais vão se falar, ou reconhecer que não lembra, ficando aquela situação chata: você sem graça de não lembrar, seu “amigo” sem graça de ter perguntado e a pessoa deprimida por achar que não tem a menor importância na sua vida (embora na maioria dos casos não tenha mesmo)... Portanto, apenas uma solução é viável neste tipo de situação. Não diga nada. Não aparente surpresa. Apenas corra, o mais rápido que puder e sem olha para trás.
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